domingo, 10 de junho de 2012

O ano de Bradley Wiggins?

Wiggins vs Evans: continua no Tour
Terminou há pouco o Critérium do Dauphiné, pelo segundo ano consecutivo ganho por Bradley Wiggins, que este ano já tinha conquistado o Paris-Nice e a Volta à Romandia, sendo agora o corredor que venceu três voltas Pro Tour/World Tour em menor espaço de tempo e o terceiro a vencer três na mesma época (Contador 2008 e Valverde 2009). Vale o que vale mas o que importa agora é saber se Wiggins será capaz de se manter em grande forma até ao final do Tour e, se assim o conseguir, quem o poderá bater.

Quando, há um ano atrás, BradleyWiggins venceu esta mesma prova, disse eu que, por estar perante a sua maior vitória na estrada até então (e, talvez, a maior da sua carreira) mesmo que no Tour já estivesse fora de forma não poderia ser criticado. Pois bem, esse Tour não correu bem, devido a uma queda e clavícula fracturada ainda na primeira semana, mas preparou-se para a Vuelta e lá foi terceiro. Depois disso venceu o Paris-Nice, a Volta à Romandia e agora o Criterium du Dauphiné. Mais surpreendente: não perdeu nenhuma prova. Nenhuma! Na Volta ao Algarve trabalhou para Porte e na Catalunha o líder era Uran.

O poder do contra-relógio


Este ano teremos uma Volta a França com 101,4 quilómetros de contra-relógio, 6,4 logo no prólogo, 41,5 à nona etapa e 53,5 no penúltimo dia de prova. Para equilibrar, seis etapas de montanha, mas apenas quatro deverão causar diferenças importantes para os primeiros lugares da classificação geral e somente três terão chegada em alto. Ao contrário do ano passado, em que dois trepadores puros como os irmãos Schleck conseguiram terminar no pódio, este é um Tour para ser defendido na montanha e conquistado nos contra-relógios. Não apenas relativamente ao primeiro lugar, como Cadel Evans fez, mas relativamente a todo o pódio e, quem sabe, os cinco primeiros lugares.

Wiggins está entre os três melhores contra-relogistas do mundo, juntamente a Tony Martin e Fabian Cancellara. Medalha de prata nos mundiais da especialidade no ano passado, este ano venceu o crono na Volta ao Algarve (com Martin a poucos centésimos de segundo), a crono-escalada do Paris-Nice, o crono da Volta à Romandia e agora o do Critérium du Dauphiné. Relativamente a prólogos: 2º no Paris-Nice e Dauphiné, 11º na Romandia.

Na Vuelta do ano passado Wiggins foi um dos melhores na montanha. Não o melhor, mas um dos melhores e o único dia em que falhou foi na chegada ao Angliru, na zona dos 20% de inclinação, algo que não haverá em nenhuma das três chegadas ao alto no Tour que se avizinha. Além disso, este ano passou com distinção os poucos testes de montanha que teve: terceiro na etapa rainha do Paris-Nice, a apenas 6 segundos do vencedor; e sem perder tempo nas subidas do Dauphiné.

O poder da equipa


Em todas as grandes voltas há uma fase em que não há colegas que valham e tem que ser o próprio chefe-de-fila a enfrentar os seus mais directos adversários. Porém, quanto mais apoio tiver Wiggins na montanha por parte dos seus colegas, melhor, de modo a garantir que a vantagem conquistada nos contra-relógios seja segurada nas chegadas ao alto, onde os melhores trepadores (porque há melhores trepadores que Wiggins) tentarão atacar. E a Sky já mostrou ter equipa para acompanhar o seu líder.

Wiggins deixou a Columbia em 2008 para deixar de trabalhar para Mark Cavendish, voltando-se a encontrar agora na Sky, cada um com os seus objectivos e que poderão chocar na Volta a França. Cavendish quer vencer o máximo de etapas e a classificação dos pontos e precisa de colegas do seu lado, Wiggins quer a camisola amarela e também necessita de colegas que o apoiem nesse objectivo. Bernhard Eisel é o colega de quarto e indiscutível do lado de Cavendish, enquanto Wiggins não dispensará Chris Froome, Michael Rogers e Richie Porte, fundamentais na defesa da liderança no Dauphiné Libéré. Edvald Boasson Hagen, vencedor de duas etapas no Tour 2011, é uma peça importantíssima para o comboio de Cavendish e para a ajuda a Wiggins nas etapas de montanha, antes dos trepadores entrarem em acção, e com isto estão encontrados sete homens de uma equipa de nove. Para os dois lugares que sobram, falta alguém para controlar o pelotão nas etapas planas, como Christian Knees ou Danny Pate, pois Rogers e Porte também poderão dar uma ajuda no comboio de Cav. Por fim, um último homem de montanha para ajudar no objectivo da camisola amarela deverá ser Lars-Petter Nordhaug, Thomas Lovkvist ou Kanstantsin Siutsou. Atendendo a que Rigoberto Uran e Sergio Henao já fizeram o Giro (e a grande nível), as duas vagas que sobram deverão ser para alguém desses cinco.

E a equipa está motivada, um trabalho que vem a ser (bem) feito desde o começo da temporada e especialmente importante no que toca a corredores que, noutras equipas, poderiam ser líderes. Logo na Volta ao Algarve, em que Wiggins foi terceiro, Richie Porte teve a sua oportunidade para brilhar, vencendo etapa rainha e classificação geral; Rogers teve a oportunidade de ser 4º no Tour Down Under da sua Austrália natal e venceu a Volta à Baviera (2 etapas e geral); Hagen venceu a Volta à Noruega e tem etapas no Algarve, T-A, Noruega e Dauphiné; e Nordhaug venceu o Trofeo Deia, pôde liderar no País Basco (6º) e teve liberdade na sua Noruega (3º). Só Froome não teve oportunidade de lutar por vitórias, mas apenas porque teve problemas físicos.

Quem poderá bater Wiggins?


Se Wiggins estiver no seu melhor na Volta a França, e acredito que estará, o seu maior rival deverá ser Cadel Evans, vencedor em título, capaz de fazer excelentes contra-relógios e de atacar na montanha. À parte destes dois, vejo Robert Gesink e Jurgen Van Den Broeck como dois fortes candidatos ao pódio, até mesmo Denis Menchov ou Vicenzo Nibali, mas a alguma distância de Wiggins e Evans, pelo menos em favoritismo pré-corrida.

Entretanto tempos a Volta à Suíça (que já está na estrada) e tempo suficiente para analisar outros favoritos e outras equipas.

Comentem, porque o blogue faz mais sentido se tiver interacção ;)

5 comentários:

  1. Mais um excelente artigo!

    Falando no Wiggins, este ano tem estado simplesmente fantástico. Defende-se muito bem na montanha e no CR já se sabe. A minha única duvida é se esta consistencia o poderá levar a uma quebra no Tour ou se é uma consistência "à lá Contador" que écapaz de estar maior parte do ano a disputar provas.

    Nos opositores a Wiggins, o único que vejo como capaz de o bater será o Cadel Evans, mas este tem uma equipa bastante mais fraca. Gostava de ver um Vdb a um grande nível e uma confirmação do ano passado por parte do Voeckler.Por último referir o Andy Schleck que este ano tem sido muito fraco e com a forma que apresentou no Dauphinée vai ser muito dificil fazer qualquer coisa.

    Sobre o assunto do Andy, gostava que fizesses um artigo em relação a ele, nomeadamente, no que tem de mudar para poder ganhar um Tour(sem ser na secretaria).Fica o desafio :P

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  2. Obrigado pelo desafio João ;)

    Infelizmente para a prova, o Andy não vai alinhar (foi confirmado ainda agora, mais de 24h depois do teu comentário, por isso ainda não tinhas como saber). Mas, sem qualquer dúvida, que é um tema pertinente e o próximo artigo (que já estava planeado) vai abordar esse assunto, entre outros ;)

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  3. Pois realmente é uma pena ele ter este problema. Mas por outro lado vai fazer com que a disputa da Vuelta seja mais emocionante com o Contador e o Schleck entre outros claro.

    No que toca ao artigo é com agrado que vejo que vais falar sobre o Andy mas gostava tambem de saber qual era a tua opinião sobre ter um Andy a disputar provas durante todo o ano e não só se concentrar na Liege e no Tour

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  4. Análise correctíssima! (para não variar) Nada mais a acrescentar! E acho que não terá problemas em vencer o Tour este ano. Julgo mesmo que com o treino em altitude que fez, a equipa que tem (ao nível das grandes Discoverys e US Postals), vencerá facilmente se nada de anormal acontecer. Figuras como F.Schleck e outros do seu estilo, partirão com 5 minutos de desvantagem só em contra-relógios.

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  5. Obrigado pelos comentários de ambos :)

    Realmente os trepadores puros, como Frank Schleck, são capazes de perder cinco minutos só em contra-relógios. Felizmente o Gesink e o Van Den Broucke estão cada vez melhores nessa área, não devem perder muito tempo e são homens que dão sempre tudo na montanha. Mesmo quando o tudo deles não é tanto quanto gostariam, animam a corrida.

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