quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O Centésimo Tour

Froome e Contador, 2 grandes candidatos ao 100ª Tour
Em 2013 disputar-se-á o 100º Tour de France, cujo percurso foi revelado ontem, e os organizadores quiserem celebrar a data com duas das subidas mais míticas de França: o Mont Ventoux e o Alpe d'Huez. Além disso, terá início na ilha de Córsega (com três etapas) e três etapas de montanha entre o último contra-relógio e a chegada a Paris, que será por volta das 20 horas. Os organizadores esforçaram-se para que fosse um Tour diferente.


Córsega

A Córsega é uma ilha no meio do Mediterrâneo, com praias encantadoras e muita floresta, sendo um terço do seu território considerado parque nacional. E não estamos a falar de uma ilha muito pequena, tendo espaço suficiente para 11 ilhas da Madeira e ainda sobrava espaço para o Alberto João Jardim. Desde 2010 recebe o Critérium Internacional, prova organizada pela ASO, e em 2013 receberá a Grande Partida da prova rainha dessa empresa e do ciclismo mundial: a Volta à França.

Serão três etapas sem grandes dificuldades e dará a hipótese dos sprinters discutirem a camisola amarela sem terem que "sofrer" num prólogo.

A entrada na França Continental

Se sai da bonita Córsega, o pelotão não entra no território continental num sítio menos bonito. A cidade escolhida foi Nice, com um contra-relógio colectivo de 25 quilómetros. Não é uma distância muito grande, mas poderá fazer diferenças a rondar um minuto para algumas equipas, especialmente se existirem quedas nas três etapas anteriores. Se tivermos em conta o festival de quedas que foi a primeira semana do Tour deste ano e que em 2011, mesmo sendo o CRE à segunda etapa, já havia equipas significativamente condicionadas por quedas... esperemos que nada aconteça, mas é um ponto negativo que vejo neste percurso. Ou colocavam o CRE na primeira etapa, como o Giro e a Vuelta, ou não metiam. Para diminuir o risco de quedas na primeira semana, a organização está a ponderar diminuir o número de ciclistas por equipa de 9 para 8.

Seguem-se duas etapas planas e um aproximar dos Pirenéus.

Pirenéus

Primeira chegada ao alto, a Ax-3 Domaines (7,8 km a 8,2%)
O primeira fim-de-semana é dedicado aos Pirenéus, e a subida final da oitava etapa terá 7,8 km a 8,2% de inclinação. Ainda assim, é a chegada em alto para a qual tenho piores expectativas, pois a experiência dos últimos anos diz-nos que na primeira chegada em alto há algumas desilusões mas poucos ataques, limitando-se os principais candidatos à geral a controlarem-se uns aos outros, por medo que o adversário esteja mais forte.

2ª etapa de montanha deste Tour
As diferenças que aí se fizerem serão aquelas com que os ciclistas sairão dos Pirenéus, pois na etapa seguinte não se espera grande emoção, existindo cinco subidas mas todas elas longe da meta.

Segue-se o primeiro dia de descanso, levando os ciclistas do Sul de França para... o Norte. Em vez da habitual passagem Pirenéus-Alpes ou Alpes-Pirenéus, o Tour de 2013 entrará em França pelo Sudeste, vai para Sudoeste, depois para Noroeste, desce na diagonal e regressa a Sudeste antes de ir para Paris. Confusos? Vejam aqui:


Os contra-relógios e o Mont Ventoux

Monte Saint-Michel, onde terminará o primeiro crono.
Na longa transição entre as duas cadeias montanhosas, os ciclistas não terão um contra-relógio mas sim dois. O primeiro deles a terminar no Monte Saint-Michel, uma bela ilhota rochosa, que parece cenário de um filme. Serão 33 quilómetros de contra-relógio, significativamente distante dos 41,5 do primeiro crono deste ano.

Os ciclistas começaram na Córsega do Critérium Internacional (apenas desde 2010, repito), na Nice (do Paris-Nice, claro está) e à 12ª etapa vão a outra cidade talismã do ciclismo, Tours, que recebe a também centenária clássica Paris-Tours. Será uma etapa sem grandes dificuldades, tal como as duas seguintes, antes de no domingo regressarem à altitude, com a chegada ao Mont Ventoux.

15ª Etapa: chegada ao Mont Ventoux
O Mont Ventoux é uma subida mítica de França, com 20,8 quilómetros a 7,8% de inclinação, o que mostra bem a sua dureza. No entanto, sempre que é apresenta uma chegada lá, oiço a mesma crítica: o resto da etapa é fácil. Sim, é, mas não por decisão da organização. O Mont ventoux não tem montanhas na proximidade e não há forma de se fazer uma etapa muito acidentada com chegada lá. Antes da subida final, o pelotão terá 220 km praticamente planos, algo que raramente se vê no ciclismo. É uma etapa diferente, mas se os trepadores quiserem, terão espaço para fazer diferenças importantes, superiores a um minuto entre homens da geral.

Após o Mont Ventoux, haverá o segundo dia de descanso, depois a habitual chegada a Gap e à 17ª jornada o último contra-relógio da prova. Serão 32 quilómetros pelos Alpes, num percurso acidentado que não deverá prejudicar muito os trepadores.


O trio Alpino

Etapa do Alpe d'Huez (a dobrar)
Em 2009 a organização do Tour tentou ser diferente, ao colocar uma chegada ao alto no penúltimo dia (curiosamente, o Ventoux), mas acabou por não fazer grandes mudanças na geral, face ao que tinha saído do último contra-relógio. Para este ano aposta num formato semelhante ao das últimas duas Vueltas, não com uma chegada ao alto após o contra-relógio mas sim três etapas de alta montanha, duas delas com chegada em alto.

A primeira das três etapas de alta montanha consecutivas terminará no Alpe d'Huez, mas com um extra: o próprio Alpe d'Huez. Os ciclistas subirão para este ponto mítico, tem mais uma pequena subida, descem, dão a volta a sobem novamente para Alpe d'Huez.


Col de Tamié (8,6 km a 6,2%), Col de l'Épine (6,1 km a 7,6%)
e Col de la Croix Fry (11,3 km a 7%), a últimas 3 montanhas
Segue-se uma etapa sem final em alto mas com cinco duras subidas, três delas nos últimos 70  quilómetros, de forma quase consecutiva. A última será a Croix-Fry, com 11,3 quilómetros a 7% de inclinação e terminando a 12 km da meta. Se os trepadores quiserem, terão aqui terreno para criar mais dificuldades.


Última etapa de montanha, na penúltima etapa
Para terminar as contas da geral, chegada a Semnoz, uma estreia que promete, com 10,7 km a 8,5%. Serão apenas 125 quilómetros mas o pelotão já estará muito desgastado, pelo que haverá certamente gente do top-10 a ceder. Veremos se alguém do pódio.

Além disso, não há que pensar no contra-relógio do dia seguinte, porque esta será a última oportunidade antes de Paris.

Houve rumores de que, para comemorar a 100ª edição, o Tour terminaria no Alpe d'Huez mas a organização preferiu manter o local habitual. No entanto, para dar mais uma novidade à prova, o final está agendado para perto das 20 horas.


Os favoritos

É na montanha que se passam as etapas mais espectaculares mas uma grande volta precisa de um outro requisito: equilíbrio. Temos o recente exemplo da Vuelta, em que Alberto Contador, Alejandro Valverde e Joaquim Rodríguez estiveram muito superiores aos restantes, mas muito próximos entre eles. Esperemos que o próximo Tour seja mais equilibrado que o anterior.

Agora que se conhece o seu percurso, pode começar-se a falar de favoritos, apesar de ser previsível que até lá alguns nomes se juntem à lista e outros saiam. Alberto Contador e Christopher Froome parecem-me os principais, especialmente depois de Bradley Wiggins anunciar que terá como principal objectivo o Giro d'Itália. Não falo do Froome que foi à Vuelta deste ano como recurso, mas sim do que estava no Tour.

Retirando Wiggins das contas, se assim ele preferir, penso que numa segunda linha estará Alejandro Valverde (como na Vuelta) e Vicenzo Nibali, que pode decidir pelo Giro ou pelo Tour. Dúvidas haverá quando a Cadel Evans, mas a BMC tem como plano B Tejay Van Garderen, melhor jovem este ano, que não é tão bom trepador quanto contra-relogista mas ainda é jovem e pode melhorar. Também será interessante ter um Ryder Hesjedal ao nível do último Giro, Jurgen Van Den Broeck, Robert Gesink e Samuel Sánchez, sem quedas na preparação e na prova. Joaquim Rodríguez também será um homem para discutir os primeiros lugares, mas o contra-relógio impede que se possa considerar um favorito (se é que apostará por correr o Tour). Ah, e Andy Schleck. Veremos como recupera das lesões deste ano. Espero que bem e seja mais um a lutar pelo pódio.

E o que acharam vocês deste percurso?

2 comentários:

  1. Uma desilusão este percurso! Queria umas chegadas em colinas nas primeiras semanas como por exemplu um Bur de Bretagne ou desse género! A única coisa que gosto é da terceira semana pois as outras duas vão ser "secantes". A última etapa, em Paris, vai ser uma bela surpresa. O final em pleno horário nobre vai ser um grande sucesso sem dúvida!

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