sábado, 25 de maio de 2013

Magistral!

O que se viu hoje na Volta a Itália oscila entre o fantástico e o desumano. Um esforço imenso, causado pela inclinação da última subida, pelo cansaço acumulado das três semanas, pelo muito frio e pela neve. Nibali quis terminar o Giro em grande e as imagens do camisola rosa por entre a neve correrão o mundo, mas Urán, Betancur e tantos outros foram igualmente fantásticos.

Quando Nibali atacou para a vitória na etapa de hoje, perseguia a sua primeira vitória numa etapa em linha neste Giro. Apesar de ter vencido a crono-escalada, faltava-lhe o gosto de bater os seus adversários no mano-a-mano e transpor o risco de meta com toda a gente atrás de si. O ataque de Nibali e os últimos cinco quilómetros da etapa de hoje são o retrato perfeito deste Giro marcado pela neve e por muitos ataques.

Nibali chegou ao cimo de Tre Cima di Lavaredo com um percurso imaculado. Nunca abanou e nunca sequer tremeu. No final disse que não via a mãe desde o Natal, porque tem vivido entre estágios e competição à procura do melhor de si. Valeu a pena, porque liderou a prova desde a oitava etapa e conquista assim a sua segunda grande volta, depois da Vuelta 2010. A partir de agora a sua carreira será virada para o Tour.

Além de Nibali, o dia de hoje foi marcado por dois colombianos, Rigoberto Urán e Carlos Betancur, aos quais se juntou já na parte final outro, Fábio Duarte. Ainda na primeira das duas subidas de hoje (que estavam encadeadas nos últimos 25 quilómetros), Betancur furou e  teve que realizar um esforço extra para regressar ao grupo dos favoritos. A tarefa foi ainda mais difícil porque o ritmo vinha a ser duro, primeiro com a Cannondale a controlar a fuga para permitir a Damiano Caruso lutar pela vitória, depois com Gorka Verdugo a fazer o mesmo trabalho para Samuel Sánchez. Depois de reentrar no grupo e de alguns momentos na cauda do mesmo, Betancur voltou a parar para mudar de bicicleta e aí a Saxo-Tinkoff tentou acelerar o ritmo no grupo para dificultar ainda mais o esforço do colombiano e abrir caminho para a consagração de Rafal Majka como melhor jovem. Um daqueles episódios que entristece quem gosta de uma batalha justa feita na estrada. Ninguém tinha que esperar por Betancur, mas aumentar o ritmo para se aproveitar do (duplo) azar do adversário também era desnecessário.

Betancur conseguiu pela segunda vez a recuperação e permaneceu na cauda do grupo cada vez mais reduzido, o que poderia ser visto como um sinal de falta de forças ou de poupança inteligente. Com apenas 23 anos, Betancur foi mais inteligente do que muitos homens com dez anos na alta roda.

Quando Majka se chegou à frente, o homem da Ag2r colocou-se na sua roda e quando Nibali desferiu o ataque definitivo foram dos que melhor aguentaram. Mas com o passar dos quilómetros e o desgaste a acumular-se, Betancur e Urán foram os últimos sobreviventes. Esta geração de colombianos é muito unida e, como se não bastasse, ambos tinham a ganhar com esta situação. Urán tentava chegar ao segundo lugar da geral e Betancur à camisola branca. Urán foi quem colocou o ritmo na maior parte do tempo e no final o seu compatriota acabou mesmo por ceder, terminando em quarto atrás de Nibali, Urán e Fábio Duarte. O ex-campeão mundial sub-23 fez uma subida a recuperar posições e foi segundo, melhorando o quinto posto alcançado no Galibier (domingo passado). Em 1989, Luis Herrera venceu a chegada a Tre Cime di Lavaredo. Hoje os Escarabajos não venceram a etapa mas podem festejar o regresso ao pódio de uma grande volta, o primeiro desde a Vuelta de 1989, quando Fabio Parra e Oscar Vargas foram segundo e terceiro.

Ontem não tivemos etapa do Giro, hoje tivemos alteração de percurso mas também um grande espetáculo, daquelas que durante muito tempo não vamos esquecer. A imagem do camisola rosa a a festejar enquanto neva fica na memória. Talvez tenha sido um espetáculo para o qual é preciso ser mais do que ser humano, mas no ciclismo os limites físicos são constantemente postos à prova. E ser ciclista é ser herói!

2 comentários:

  1. Esta geração de ciclistas colombianos que tem aparecido nos últimos 2 ou 3 anos,decerto que irá fazer furor tal como a geração da década de 80 e princípios dos anos 90.Ciclistas espetaculares como Lucho Herrera,Martin Farfan,Fabio Parra,Oscar Vargas e Oliverio Rincon,têm agora em Rigoberto Uran,Fabio Duarte,Carlos Betancourt,Nairo Quintana e Sergio Henao dignos sucessores.

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