segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

10 anos depois de Marco Pantani: parte I

Tour 1994: Piotr Ugrumov, Miguel Indurain (vencedor) e Marco Pantani
Quando chegou a acordo com Davide Boifava quanto ao salário a receber na Carrera, disse que não estava tudo. "E se eu ganhar o Giro? E se eu ganhar o Tour?". Adicionadas novas cláusulas para o caso de obter grandes vitórias, Boifava disse-lhe que agora já tinha um bom contrato. Ele ripostou que quem tinha um bom contrato era a Carrera porque podia contar com ele, Marco Pantani.

Tinha 22 anos (13/01/1970) e uma enorme determinação. Antes já tinha dito a pessoas próximas que se os dois primeiros anos de profissionalismo não corressem bem deixaria o ciclismo. E se tudo corresse bem, aos 30 já o poderia deixar feliz e realizado. Não tinha tempo a perder.

Antes do Giro de 1994, o segundo que disputava, voltou a mostrar a sua determinação. "Se neste Giro não corro como prometo, volto para a casa da minha mãe e para o kiosk vender piadina (pão típico italiano)" disse a um colega. Mas o Giro correu de forma soberba, vencendo duas etapas consecutivas, uma delas com passagem no Stelvio e no Mortirolo, com quase sete milhões de italianos a assistir através da televisão. Nascia assim um ídolo nacional, mais tarde internacional.

Numa das últimas etapas, com mais de duzentos quilómetros pelos Alpes, atacou aos trinta quilómetros de etapa para rebentar com todos os seus adversários. Pantani representava um ciclismo muito diferente de Miguel Indurain, então trivencedor do Tour e bivencedor do Giro. Indurain primava pela regularidade na montanha, sempre entre os melhores, e a potência que derrotava os adversários no contrarrelógio. Pantani era o ataque em qualquer montanha, a explosão que faltava a Indurain. O russo Evgeni Berzin foi o único capaz de superar Marco Pantani, segundo nesse Giro d'Itália à frente de Indurain.

Seguiu-se a estreia no Tour e logo à nona etapa Miguel Indurain deu um passo enorme para aquele que seria a sua quarta vitória na Volta a França. Num contrarrelógio de 64 km, Indurain ganhou dois minutos ao segundo classificado, o seu mais direto adversário, o suíço Tony Rominger, segundo na edição anterior e que dois meses antes tinha conquistado a sua terceira Vuelta (então a Vuelta ainda se disputava na primavera). Pantani, por seu turno, perdeu mais de dez minutos (!). Depois de muito atacar na montanha, com dois segundos e dois terceiros lugares em etapas, recuperando tempo todos os dias, terminou num incrível terceiro lugar da geral, atrás de Indurain e o letão Piotr Ugrumov, sendo também o melhor jovem.

O ano seguinte, 1995, seria um retrato da sua carreira: muitos altos e baixos em pouco tempo. O Giro era o seu objetivo mas teve que abdicar devido a um acidente em que foi atropelado. Na Volta à Suíça esteve à beira de desistir quando a primeira etapa de montanha não correu bem e nesse dia teve uma discussão com o seu massagista de sempre, Roberto Pregnolato, que entendia que Pantani não devia desistir. A discussão terminou com uma bofetada de Pregnolato na cara de Pantani, que só voltaria a dirigir-lhe a palavra... no final da etapa seguinte... quando venceu. Seguiu para França e na primeira semana estava novamente à beira de desistir devido a fortes dores que o atormentavam, mas entretanto foi-lhe diagnosticado a origem do problema, uma lesão na pélvis. Foi tratado e as dores desapareceram ainda a tempo de vencer duas etapas de montanha, uma delas no mítico Alpe d'Huez, apesar de se ter enganado na última curva e ter virado para o desvio dos carros de apoio. Terminaria 13º na geral e venceria pela segunda vez consecutiva a classificação da juventude, o que até então nunca tinha sido conseguido.
Alpe d'Huez 1995. A caminho da vitória. Video aqui
O próximo objetivo eram os Campeonatos do Mundos a disputar na Colômbia, num circuito considerado por muitos como um dos mais duros das últimas décadas. Pantani terminou terceiro e, com a moral em alto, o azar do acidente em véspera de Giro fazia parte do passado.

Porém, um dos acidentes mais marcantes da sua carreira estava à beira de acontecer. Antes da partida do Milano-Torino, num dia de frio, optou por levar gorro. "Os capacetes não me aquecem e eu não tenho cabelo. Além disso, os capacetes aborrecem-me, prendem-me os pensamentos"

A vitória estava entregue aos fugitivos mas Pantani gostava da velocidade, atacou numa subida e acelerou o quanto conseguiu na descida. Não havia necessidade, não havia nada em jogo, mas ele quis assim. A polícia local estava desorganizada, deixou que um carro entrasse na estrada e provocasse um novo acidente a Pantani e aos dois ciclistas que seguiam consigo. Fraturou a tíbia e o perónio, teve lesões no gémeo e a sua carreira estava em risco.
Campeonato do Mundo 1995: Miguel Indurain, Abraham Olano (campeão) e Marco Pantani
Ver vídeo aqui



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