terça-feira, 4 de março de 2014

Paris-Nice: percurso, favoritos e antevisão

Richie Porte venceu em 2013
No sábado passado tivemos o arranque da temporada das clássicas de pavé, com o Omloop Het Nieuwsblad vencido por Ian Stannard (Sky). É uma prova muito esperada em vários países da Europa, porém nem tanto em Portugal, uma vez que poucas clássicas de pavé são transmitidas na nossa televisão e, sem transmissão, acabam por não ter a divulgação que têm noutros países.

Situação diferente é a do Paris-Nice que começa domingo, uma corrida muito popular entre os adeptos portugueses. Há muitos anos que tem transmissão em direto na televisão e este ano estará em dois canais, com a TVI 24 a iniciar a sua temporada 2014 de ciclismo.

Percurso

Será um percurso sem grande montanha, sem as chegadas a Mende (Monte Jalabert) ou à Montagne de Lure, dois pontos importantes nos últimos anos, mas poderá ainda assim ser uma corrida muito interessante.

Corrida do Sol sempre mostrou uma grande elasticidade quanto ao percurso, mas tinha como garantida a existência de um contrarrelógio e é por aí que passa a grande surpresa deste Paris-Nice (9 a 16 de março), pela ausência de crono.

As três primeiras etapas serão as mais acessíveis, à medida dos sprinters, mas a segunda e a terceira também oferecem muito terreno para as equipas que gostam de provocar abanicos, muito frequentes no Paris-Nice. Se o vento estiver propício a isso, será perigoso. (poderão aceder aos perfis mais abaixo).

A partir daí teremos etapas mais acidentadas. A quarta e a quinta apresentam cada uma dela três subidas de terceira categoria e depois uma de segunda já nos quilómetros finais. São subidas curtas mas com rampas bastante inclinadas e não podemos esquecer que estamos em março e muitos corredores estão longe da melhor forma.
6ª etapa
A etapa mais dura será a sexta. Passará pelo Col de Bourigaille e terminará no Muro de Fayence (último km a 11%). São subidas desconhecidas para a maioria do público, mas em 2009 (num percurso mais duro), Alberto Contador teve ali um dos piores dias da sua carreira. Estava de amarelo, ficou muito cedo sem colegas, alimentou-se mal e, como dizem os espanhóis, ficou hundido. Afogou-se, sem forças. Luis León Sánchez venceu a etapa e tomou a liderança que não mais deixaria.

A sétima etapa terá um final em rampa mas parece propícia para ciclistas atrasados na geral formarem um grupinho de fugitivos e discutirem entre eles a etapa. Este ano não haverá crono-escalada para terminar e o último dia será para um circuito de média montanha em redor de Nice. É um constante sobe e desce mas são apenas 128 km e nenhuma subida é demasiado dura.
8ª e última etapa
Ver perfis:
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Favoritos

Nos últimos anos a prova foi vencida por voltistas como Alberto Contador (2007 e 2010) e Bradley Wiggins (2012), um homem de clássicas como Davide Rebellin (2008) e até um contrarrelogista como Tony Martin (2011), o que mostra a diversidade de percursos que tem havido. E quem se adapta a este?

Não existe um que se destaque como principal favorito, mas o vencedor do ano passado Richie Porte (Sky) é um dos homens a ter em conta. Abriu a temporada muito forte na sua Austrália natal (vitória em etapa + 4º lugar final no Tour Down Under) e foi recentemente 2º na Andaluzia. (Chris Froome falhará o Tirreno-Adriático devido a uma inflamação nas costas e Richie Porte será o seu substituto na prova italiana, falhando por isso o Paris-Nice).

Tejay Van Garderen (BMC) foi 5º e 4º nos dois últimos anos e nunca escondeu que esta é uma das suas provas favoritas. O percurso deste ano não parece tão adequando ao norte-americano mas vem de um 2º lugar na Volta a Omã, apenas batido por Chris Froome.

Aquela subida a Fayence poderá sim ser ideal para Carlos Betancur (Ag2r). O colombiano começou o ano com excesso de peso mas acabou de vencer o Tour du Haut Var. Não é que seja a melhor prova do mundo mas é um indicador de boa forma.

E o lote de homens em grande forma fica completo com Rui Costa (Lampre), que poderá adaptar-se muito bem ao percurso. De resto, no Alto do Malhão só perdeu para Alberto Contador e a moto da revista espanhola Ciclismo a Fondo, fundamental para a vitória do espanhol (viram o resumo na RTP 2? Uma hora que podem ver aqui).

Vincenzo Nibali (Astana) não esteve tão bem em Omã quanto no ano passado, mas as qualidades do italiano são conhecidas por todos. Depois de vencer o Giro em 2013, este ano o objetivo principal passa pelo Tour, e se em 2013 venceu o Tirreno-Adriático, este ano poderá vencer o Paris-Nice.

Rafal Majka (Tinkoff-Saxo) e Simon Spilak (Katusha) também são candidatos ao pódio. Daniel Navarro (Cofidis), Sylvain Chavanel (IAM), Tony Gallopin e Maxime Monfort (Lotto-Belisol) são ciclistas com ambições para esta prova e estou curioso para ver do que é capaz Ion Izagirre (Movistar) na ausência de Valverde e Quintana, Sergey Chernetskiy (Katusha) depois de boas indicações deixadas no Algarve e Alexander Geniez (FDJ), 4º na Algarvia e vencedor de uma etapa na última Vuelta, e o jovem Romain Bardet (Ag2r).

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**** Porte, Costa, Betancur e Van Garderen
*** Nibali e Majka
** Spilak, Navarro, Gallopin, Monfort, Chavanel, Ion Izagirre

Também estarão presentes Edvald Boasson Hagen (Sky), Simon Gerrans (Orica), Jakob Fuglsang e Tanel Kanger (Astana), Nacer Bouhanni (FDJ), Tom Boonen e Zdenek Stybar (Omega Pharma), Lars Boom, Andy e Frank Schleck (Trek), Bryan Coquard e Thomas Voeckler (Europcar), John Degenkolb (Giant) e os portugueses André Cardoso (Garmin) e Nelson Oliveira (Lampre).

Chave-da-corrida

Muito provavelmente a chave-da-corrida estará no Muro de Fayence. Alguém que esteja no primeiro grupo nos restantes dias e na sexta-feira consiga levar a melhor, ganhando tempo aos seus adversários.

Porém, trata-se do Paris-Nice. O vento pode ser determinante para eliminar alguém mais desatento nos primeiros dias e em caso de chuva as etapas acidentadas ficarão ainda mais duras. Foi numa dessas, por uma queda, que Nairo Quintana perdeu o pódio no ano passado.

Também não é de excluir que um ciclista (sozinho ou em grupo) ganhe uma dúzia de segundos antes disso e em Fayence apenas tenha que se defender. E atenção às bonificações.

Transmissão

O Paris-Nice terá transmissão todos os dias no Eurosport e na TVI 24. No Eurosport apenas alguns dias terão direto, mas na TVI 24 serão todos.

A aposta da TVI 24 no ciclismo iniciada no ano passado é para continuar. Começam agora com a Corrida do Sol mas têm muito mais garantido para os próximos tempos, bem mais do que eu esperaria e nos próximos dias hei de vos contar um pouco mais sobre isso.

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Na Volta a Múrcia (disputada sábado), Tiago Machado foi 2º classificado. Alejandro Valverde conquistou a sua quinta vitória da temporada (todas numa semana e meia) e foi o único capaz de superar o português.

Desde que foi para o estrangeiro, Tiago Machado tem uma vitória (contrarrelógio do Circuit de la Sarthe 2010), nove segundos lugares e seis terceiros lugares. Há ciclistas que têm a sorte de um dia entrar numa fuga e conquistar uma grande vitória. Ao Tiago falta essa sorte. Ataca, contra-ataca, dá sempre 100% de si e no final bate no poste ou na trave. Pela postura que sempre teve em corrida, tem a minha admiração e cá estou à espera de o ver de braços no ar. Porque merece.

José Mendes foi 6º.

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Ainda relacionado com o ponto anterior, a NetApp recebeu convite para o Paris-Roubaix e a Liége-Bastogne-Liége. Os portugueses poderão estar na prova belga, a mais antiga do calendário mundial. Antes disso terão o Tirreno-Adriático.




Editado 07/03/2014: Chris Froome falhará o Tirreno-Adriático devido a uma inflamação nas costas e Richie Porte será o seu substituto na prova italiana, falhando por isso o Paris-Nice.

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